Ao final de cada ano, exames vestibulares se tornam assunto corriqueiro entre alunos, pais, professores e na própria mídia. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em especial, criado em 1998 pelo Ministério da Educação (MEC) na gestão do então ministro Paulo Renato Souza (1945-2011), surgiu com o intuito de avaliar anualmente a qualidade do aprendizado de estudantes do Ensino Médio (antigo colegial) em todo o Brasil.

A proposta inicial era avaliar como andava o aprendizado; identificar as escolas com melhor ou pior desempenho e utilizar os dados obtidos para criar políticas públicas de educação para o setor. A primeira versão do Enem era composta por 63 questões aplicadas em um único dia.

Na metade da década de 2000, os resultados individuais passaram a ser utilizados como parte do processo seletivo de instituições de ensino superior públicas e privadas. Algumas universidades começaram a usar o Enem tanto para substituir o vestibular quanto para considerar a nota no exame para conceder bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni), além de ingresso de candidatos pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A versão atual do Enem é aplicada em dois dias, com 180 questões (quatro provas objetivas, com 45 questões cada, e uma redação).

No primeiro semestre de 2021, 109 instituições públicas de ensino superior (incluindo universidades federais, estaduais e institutos federais) aceitaram o Enem como forma de ingresso ou como parte do processo seletivo. Essas instituições ofereceram 206.609 mil vagas em 5.571 cursos. Além desses processos, o Governo Federal criou, em 2014, o Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec), que oferece vagas gratuitas em cursos técnicos em instituições públicas e privadas de ensino superior e de educação profissional e tecnológica. A inscrição é feita pela internet e os candidatos são selecionados com base na nota obtida no Enem. Já os estudantes que alcançarem 600 pontos ou mais no Enem poderão se candidatar ao Ciência sem Fronteiras, programa que oferece bolsas em universidades estrangeiras. Os editais para o programa são abertos ao longo do ano.

Elaboração das provas

A elaboração das provas do Enem parte da seguinte fórmula:

• Professores elaboram itens e os enviam revisados para o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), autarquia federal vinculada ao MEC, para compor o banco nacional de itens.

• O MEC realiza um pré-teste com alunos do 2º ano do ensino médio e do 1º ano da universidade. Nessa fase é ajustado o grau de dificuldade das questões.

• As questões testadas vão para o banco de questões, divididas entre quatro áreas de conhecimento — Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias e Matemática, além da redação — e quatorze componentes curriculares — História, Geografia, Filosofia, Sociologia, Química, Física, Biologia, Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira (Inglês ou Espanhol), Artes, Educação Física, Tecnologias da Informação e Comunicação e Matemática. Desse banco de questões, são selecionadas as 180 de cada Enem.

O resultado em números absolutos de acerto não é o utilizado como pontuação de cada candidato. As questões são dispostas conforme um grau de dificuldade, chamado de teoria da resposta ao item (TRI). Tudo depende da coerência dos acertos de cada aluno. A TRI identifica quem acerta as questões mais difíceis; se isso ocorre, espera-se que esse aluno acerte também as mais fáceis. A partir de uma série de cálculos estatísticos baseados na TRI, obtêm-se, por meio de softwares especializados, a nota final do candidato.

Edições

Em outubro de 2009, a primeira edição do novo Enem foi cancelada após o jornal O Estado de São Paulo informar ao MEC que a prova havia “vazado”. O exame foi, então, remarcado para dezembro daquele ano. Somente em janeiro de 2010, o Sisu, meio pelo qual instituições públicas de ensino superior oferecem vagas para candidatos que participam do Enem, passou a funcionar, mas com falhas. Para se cadastrar no sistema, a espera chegou a ser de 14 horas. A situação piorou a ponto de o Sisu aprovar estudantes não classificados. Em novembro do mesmo ano, erros de impressão prejudicaram novamente o Enem. Eram erros no cartão de resposta e perguntas repetidas. Uma juíza do Ceará suspendeu o exame e o MEC recorreu da decisão. O tema da redação vazou em Pernambuco e decidiu-se aplicar um novo exame no mês seguinte.

Em 2011, um novo problema surgiu quando uma suspeita deu conta de que um colégio de Fortaleza havia aplicado, um mês antes da prova do MEC, um simulado contendo 14 perguntas idênticas às do Enem. A princípio, foram anuladas mais de 600 provas dos alunos desse colégio. Em 2012, apesar de alguns problemas pontuais (as questões de Biologia e de Química foram as que mais apresentaram inconsistências nos dados dos enunciados), a qualidade geral do Enem foi elogiada em relação à das edições anteriores. Já em 2013, o que ficou marcado foi a mudança na correção das redações. Por ter ocorrido de, em provas anteriores, estudantes colocarem trechos de hinos ou receitas sem nenhuma ligação com o tema pedido e algumas dessas redações terem recebido boas notas, o governo teve que aumentar os cuidados para a correção. Em razão disso, cerca de 1.300 redações foram anuladas.

Em 2014, a grande novidade foi o fato da Universidade de Coimbra, fundada em 1290 e uma das mais antigas universidades do mundo, e a Universidade da Beira Interior (UBI), ambas em Portugal, terem anunciado que começariam aceitar as notas de estudantes brasileiros no Enem como forma de acesso.

 

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
Já em 2016, o Inep lançou o aplicativo ENEM, permitindo o acesso em dispositivos móveis (celulares e tablets) a informações como calendário, inscrições e até gabaritos de provas. O usuário pode, inclusive, definir alertas para não perder os prazos do cronograma do exame.

A edição de 2020 do Enem sofreu alterações em decorrência da pandemia da COVID-19. Inicialmente adiada, a prova acabou sendo realizada em duas datas de janeiro de 2021. Foram 5.893.369 inscritos, dos quais 2.795.369 compareceram aos dois dias de prova ou a pelo menos um dia, e 3.029.391 não compareceram a nenhum dia de aplicação.

A grande novidade desta edição foi o lançamento do “Enem digital”, que é a versão online da prova.  O Ministério da Educação (MEC) havia anunciado em 2019 a intenção de fazer a migração do exame para as redes, o que levaria a uma economia nos custos de impressão e aplicação. A medida gerou polêmicas, com uma série de especialistas apontando as dificuldades que milhões de estudantes podem ter em acessar a prova com uma conexão estável e segura. Apesar disso, a intenção do ministério é que até 2026 todo o exame seja digital.