A linguagem é parte fundamental de nossas vidas. Ela se manifesta de muitas maneiras, em muitos níveis e deve ser respeitada e valorizada em todas as suas formas. Afinal, fazemos uso da linguagem como forma de organizar o mundo. Da comunicação dos sentimentos mais profundos à explicação de um documento burocrático, tudo se faz por meio dela, pois ela é matéria-prima que pode ser usada tanto para fins objetivos, como no trabalho, mas também como forma de prazer, no que diz respeito à Literatura e demais manifestações artísticas.

Certo e errado

Falar em “certo” e “errado” quando nos referimos à língua não é a melhor forma de observá-la como organismo vivo, em constante transformação e que funciona para atender as mais diversas intenções e necessidades. Não há nada de errado em fazer uso de construções coloquiais da língua quando estamos em situações informais. No entanto, ter um domínio da linguagem culta é muito útil tanto no âmbito profissional quanto no âmbito da escrita. Dessa forma, existem, sim, aspectos que devem ser observados no sentido de tornar a mensagem mais adequada ao fim proposto. Se o objetivo for redigir um texto claro, como é desejável no ambiente profissional, é importante atentar para a simplicidade e objetividade, pois garantem que as informações sejam compartilhadas de forma mais direta e eficaz. Nesse sentido, deve-se considerar não se alongar na mensagem, sob o risco de perder o leitor antes que ele tenha tido a oportunidade de entender qual é o seu ponto.

Planejando a mensagem

Muitas vezes, a dificuldade na hora de escrever vem da confusão na forma de organizar as ideias. Antes de escrever um texto é preciso planejar a mensagem. Assim, se a mensagem está clara para você, é mais provável que fique clara para seus leitores. Fazer um breve rascunho ou esquema pode ajudar. É interessante pensar no que você quer dizer e para quem, bem como fazer perguntas simples para si mesmo sobre o conteúdo: Quem? Para quem? Como? Quando? Onde? Por quê? Sabendo exatamente o que se quer dizer, seja honesto e fiel ao seu próprio vocabulário. Forçar o uso de palavras “sofisticadas” para rebuscar o texto pode ser uma emboscada se elas forem empregadas de forma descontextualizada. Escreva o texto da forma como você gostaria de lê-lo se estivesse buscando por aquelas informações. Afinal, o texto honesto tem muito mais chances de atingir o leitor do que o texto sem consistência.

Vícios de linguagem

O grande problema dos vícios de linguagem, no entanto, não é o fato de estarem ou não corretos gramaticalmente, mas, sim, poderem denotar uma certa pobreza no vocabulário, que fica limitado sempre às mesmas expressões e com poucas alternativas. Além disso, quando se utiliza termos e construções próprios de um segmento, corre-se o risco de não deixar a mensagem clara para pessoas que não tem intimidade com ele. Isso acontece muito em relação a abreviações, siglas e símbolos, que podem ser muito comuns e óbvios para uns, mas confusos para outros. Portanto, é sempre interessante escrevê-los por inteiro quando utilizados em um texto, pelo menos na primeira vez em que são mencionados. Já o fenômeno do “gerundismo”, que ficou comum no Brasil principalmente por ser usado por profissionais como atendentes de telemarketing, surgiu de uma tentativa de adaptar à língua portuguesa frases encontradas nos manuais de instrução escritos em inglês. A construção, que a princípio dava um certo ar de sofisticação, difundiu-se de tal forma que virou piada, e implica num uso excessivo de diferentes verbos para transmitir informações simples. Por exemplo, as frases “Eu vou estar verificando seus dados” ou “Eu vou estar transferindo a ligação” podem ser facilmente substituídas por formas mais simples e claras, como “Verificarei seus dados” ou “Vou transferir a ligação”.

Adjetivos

Os adjetivos são grandes parceiros da escrita e são usados para descrever objetos, lugares, pessoas, situações etc., tanto objetivamente como subjetivamente, além de serem fundamentais para expressar opiniões e sentimentos. O excesso de adjetivos, no entanto, pode ser um grande vilão na hora de escrever, uma vez que acaba representando uma vontade de dar impacto excessivo ao conteúdo do texto, sem apresentar uma argumentação consistente para isso. Por exemplo, na frase “Este cantor é horrível, chato e irritante”, vários adjetivos foram usados de forma a tornar claro que o músico desagrada ao emissor da mensagem, mas o conteúdo da oração nada diz além disso. Se o ponto é questionar a qualidade da produção musical de um artista, por exemplo, é possível discutir suas habilidades técnicas, seus temas recorrentes, seu lugar na produção musical no país etc., buscando reais argumentos. Nossas opiniões nada são além de impressões pessoais que podem ou não ser compartilhadas por outras pessoas. E é importante não colocar a própria opinião como uma verdade inquestionável. Esse cuidado torna seu texto mais honesto e aberto para eventuais discussões saudáveis.

Redundância

Quando a argumentação não está clara, bem estruturada e consistente, corre-se o risco de cair na redundância e ficar repetindo a mesma ideia de formas diferentes, caindo novamente no vazio. Verifique onde as ideias estão repetitivas e não hesite em eliminar trechos. Lembre-se: menos é mais. Em relação a isso, deve-se prestar atenção também aos pleonasmos, como, por exemplo, “entrar pra dentro”, em vez de simplesmente “entrar”, pois eles também indicam falta de atenção ao conteúdo de seu texto.

Vozes do discurso

Quando o objetivo é clareza e simplicidade, o uso da chamada “voz ativa” pode ser mais adequado do que o da “voz passiva”. De forma geral, a voz ativa chama a atenção para o agente da ação, como em: “A Bruna fez um bolo de chocolate”. Já a voz passiva chama a atenção para o objeto da ação, como em: ”O bolo de chocolate foi feito pela Bruna”. As frases mais diretas tendem a ser melhor compreendidas pelo leitor. O mesmo acontece em relação aos discursos diretos e indiretos. Para relembrar, o discurso direto é aquele em que se faz uma transcrição exata do que foi dito por outra pessoa. É o caso de: “Eu, enquanto diretor, não confio mais no trabalho da sua empresa. ”. No discurso indireto, ao transmitir a fala de outra pessoa, o autor acaba por acrescentar seu relato na mensagem, como em: “O diretor disse que não confiava mais no trabalho da nossa empresa.”.

Leitura

Não há dúvidas de que escrever é um exercício que requer prática. Quanto mais você escreve, mais pode notar seus pontos fortes e pontos que precisa melhorar. E uma das maiores fontes de aprimoramento para a escrita é a prática da leitura. A leitura auxilia na diversificação do vocabulário e também na visualização de construções e grafias. Além disso, amplia suas fontes de conhecimento e proporciona um repertório cultural maior na hora de escrever. Assim, é possível sair do lugar comum. A leitura traz conteúdo e desenvolve a capacidade de imaginar e colocar em palavras as ideias. É importante ter contato com tipos diferentes de textos, desde literatura – em seus vários estilos – até artigos de opinião. Conhecer os modelos e estruturas deixa o indivíduo mais preparado para adequar suas ideias ao tipo de texto necessário quando exigido.

Ponto de vista

O ponto de vista sob o qual se escreve faz muita diferença. Quando a questão é discutir um tema geral e não de escopo pessoal, é recomendável evitar a primeira pessoa do singular ou do plural, embora a primeira pessoa do plural possa transmitir a ideia de uma verdade compartilhada. É também necessário atentar para o uso de brincadeiras e ironias, já que o interlocutor pode ter uma interpretação diferente da esperada, e o que é óbvio e inofensivo para alguém pode ser obscuro e extremamente ofensivo para outro.

Erros comuns

Alguns erros são muito comuns, mas podem ser evitados na hora de falar e escrever. São eles:

  • O uso do mim

Com relação aos pronomes, por exemplo é comum a construção “O dinheiro é para mim usar”. “Mim”, no entanto, não pode ser usado como sujeito de qualquer ação. Logo, o correto seria escrever: “O dinheiro é para eu usar”. Para não esquecer dessa regra, pode-se lembrar da frase “Mim não faz nada. ” Ou “Mim não conjuga verbo”.

  • Os pronomes pessoais

Também acontece muito de se usar “eu”, “tu”, “ele(s)”, “ela(s)”, “nós” e “vós” como objetos diretos, o que desrespeita a gramática normativa. Por exemplo, o correto é escrever “Levei-a para casa. ” em vez de “Levei ela para casa”. Esta é uma ocorrência comum na fala, mas não aceitável na escrita.

  • Os pronomes oblíquos

Outra construção muito recorrente na fala, mas considerada equivocada pela norma culta da gramática, é começar frases com pronomes oblíquos átonos: “me”, “te”, “se”, “o”, “a”, “lhe”, “nos”, “vos”, “os”, “as”, “lhes”. É o caso, por exemplo, de “Te amo. ”, que deve ser substituído por outras formas equivalentes, como “Eu te amo. ”, “Amo-te. ” ou “Amo você”.

  • Maior e menor

Além disso, existem expressões comuns que são consideradas equivocadas pela norma culta, como, por exemplo, dizer que alguém é “de menor” ou “de maior” para indicar que a pessoa tem menos ou mais de 18 anos. Prefira dizer que a pessoa é “menor de idade”, “maior de idade” ou simplesmente “menor” ou “maior”.

  • Flexão verbal

Entre os erros constantemente repetidos está: “Espero que você esteje bem e seje muito feliz!”. Estas flexões não existem para os verbos “ser” e “estar”. Em qualquer situação, o correto seria: “Espero que você esteja bem e seja muito feliz!”. O mesmo vale para a forma “menas”, que nunca deve ser usada, pois a palavra “menos” é invariável. Não se diz “Hoje tinha menas gente.”, mas “Hoje tinha menos gente.”.

  • Concordância verbal

Existem ainda os casos em que os falantes realizam a flexão verbal de acordo com a ideia que o sujeito expressa, porém nem sempre o verbo deve concordar com a ideia nele contida, mas com o número da palavra usada. Por exemplo, o correto é “A gente saiu ontem.” e não “A gente saímos ontem.”. Da mesma forma, o correto é “O pessoal chegou rápido.” e não “O pessoal chegaram rápido”.

Revisão

Depois de todo o esforço para escrever, uma boa revisão faz toda a diferença. Revisando o texto, é possível encontrar e corrigir erros de distração ou simples problemas de ortografia ou de concordância que não foram percebidos durante a escrita. Revisar seus textos regularmente também ajuda no autoconhecimento e no reconhecimento de qualidades e de problemas recorrentes que podem ser melhor desenvolvidos. O corretor ortográfico do computador pode ser um grande aliado na hora da revisão, pois ele pode detectar pequenos erros que passam despercebidos. Se for possível revisar o texto um dia após sua escrita ou pedir para outra pessoa revisá-lo, existem ainda mais chances de que a revisão seja eficaz, pois é necessário certo distanciamento do texto para lê-lo com mais clareza. Na revisão, um dos problemas que podem ser encontrados é a repetição de palavras, que acaba denotando um vocabulário limitado. Para corrigir esse problema é possível fazer cortes na frase que não alterem seu sentido, buscar sinônimos em dicionários ou até tentar reestruturar a frase — um exercício que confere muitas habilidades na hora de escrever. Um texto bem escrito e correto, além de proporcionar o melhor entendimento do leitor, também demonstra capricho e cuidado por parte do escritor, garantindo uma comunicação eficaz.