Uma luta de séculos

O feminismo tem como objetivo os direitos iguais para todos os gêneros. Ele luta pelo empoderamento feminino. O feminismo, portanto, combate padrões opressores que prejudicam as mulheres.

Durante muito tempo as mulheres ficaram confinadas à esfera do cotidiano doméstico. A vida pública, principalmente na questão política, foi (e em muitos casos ainda é) dominada pelos homens. Em muitos países as mulheres não podiam administrar empresas ou ter um papel político dentro do Estado.

Logo, essa luta não é nova. Há registros de lutas pelos direitos das mulheres desde a Roma Antiga. Por exemplo, no século III a.C. as mulheres romanas fizeram uma manifestação e bloquearam todas as entradas do Fórum. Catão, o Velho, resistiu às tentativas de revogar as leis que limitavam o uso de produtos caros pelas mulheres romanas. Segundo ele, se elas saíssem vitoriosas daquela situação “o que não tentarão?”. Apesar dessa oposição, as mulheres romanas acabaram vencendo essa batalha.

No entanto, entre esse episódio e o surgimento do feminismo, poucas vozes se levantaram para defender os direitos das mulheres. Entre essas vozes está o trabalho da filósofa italiana Cristina de Pisano (1363-1430). Ela produziu obras voltadas para a valorização da mulher através da educação. Pisano é considerada uma importante poeta medieval. Sua obra em versos e prosa foi grande sucesso na Europa Ocidental.

Muitos séculos depois essa postura de Cristina reapareceu como algo que hoje é conhecido como “pré-feminismo”, o qual deu seus primeiros passos como movimento organizado durante a Revolução Francesa, em 1789.

As mulheres tiveram participação ativa na Revolução Francesa, no entanto, suas reivindicações não foram acolhidas. A declaração proposta pela revolucionária Olímpia de Gouges (Declaração dos direitos da mulher e da cidadã), em 1791, por exemplo, que defendia que homens e mulheres tinham direitos naturais idênticos acabaria rejeitada pela Convenção.

O sufrágio

No ano seguinte à publicação da declaração de Gouges, a escritora britânica Mary Wollstonecraft publicou A vindicação dos direitos da mulher, considerado por muitos um texto seminal do movimento feminista em língua inglesa.

Assim, o movimento feminista acabaria migrando para o Reino Unido durante a Revolução Industrial. Essas organizações políticas e sociais das mulheres britânicas lutavam pelo direito ao voto e a melhoria de salários e condições de trabalho.

 

O movimento que esteve presente na Revolução Francesa e no Reino Unido da Revolução Industrial ganhou corpo quando grupos também surgiram na Holanda e em outros países europeus. Depois, na década de 1840, o feminismo começou a se transformar em uma força política substancial nos Estados Unidos.

 

Foto: estátua de Millicent Fawcett, sufragista inglesa, na praça do Parlamento.

 

Nesse momento surgiu o Movimento Sufragista, o grande estopim que espalhou o feminismo pelo mundo. Fizeram parte deste movimento as primeiras ativistas feministas da história. Elas lutavam pelo direito de poder votar e serem votadas, ou seja, de constituírem uma representação parlamentar e terem voz no debate político.

Em 1848, feministas parisienses passaram a publicar o jornal La Voix des femmes (A Voz das mulheres) e o debate ganhou cada vez mais espaço na Europa para, no ano seguinte, a escritora Luise Dittmar, criar na Alemanha o jornal Soziale Reform (Reforma Social).

O final da década de 1840 foi marcado por uma série de debates conduzidos pelas feministas norte-americanas; as irmãs Lucretia Mott e Martha Wright, Mary Ann McClintock, Jane Hunt e Elizabeth Cady Stanton, que focavam na defesa do direito ao voto.

Em 1851, Sojourner Truth, uma afrodescendente norte-americana escravizada, fez um famoso discurso durante a Convenção pelos Direitos das Mulheres, em Ohio, que abriu campo para debater a questão racial. Esse crescente e cada vez mais diverso movimento feminista nos Estados Unidos acabaria perdendo a força durante o período da Guerra da Secessão dos Estados Unidos (1861-1865).

No século XX

Após o conflito, o movimento sufragista nos EUA ganharia um viés elitista enquanto as trabalhadoras, muitas delas imigrantes europeias, se aproximavam dos sindicatos e de ideias mais à esquerda do espectro político. É desse novo arranjo que surge a anarquista e ativista política lituana Emma Goldman (1869-1940). Goldman seria uma figura de muita importância nas primeiras décadas do século XX. Ela lutou pela liberdade de expressão, o controle da natalidade e o amor livre. Sua obra é considerada uma das mais relevantes desse período da história mundial.

Com a Grande Depressão e, depois, com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o mundo entrou em um período de estagnação nos avanços sociais. O movimento feminista também foi afetado por esse cenário.

Durante a Segunda Guerra Mundial milhares de homens foram convocados a lutar. Nesse momento, as mulheres se tornaram ampla maioria das forças de trabalho nas fábricas. Surgiram, então, as primeiras creches, estabelecimentos que ficavam com as crianças enquanto as mães trabalhavam nas fábricas e os pais lutavam na guerra. É nesse contexto que começou a ressurgir um movimento feminista que explodiria com toda força nos anos 1950 e 1960.

Após o fim da guerra, as novas lutas das feministas acabariam produzindo, nos Estados Unidos, a Lei de Igualdade de Pagamento (Equal Pay Act), em 1963, a qual ofereceu a primeira garantia legal às mulheres para que elas recebessem salários iguais aos dos homens, e a Lei dos Direitos Civis (Civil Rights Act), em 1964, que proibia que empregadores discriminassem com base no gênero.

Nas décadas seguintes, o movimento feminista foi ganhando mais multiplicidade de causas (a questão racial se tornou ainda mais central; ecofeminismo, isto é, aproximação com movimentos de preservação ambiental; luta pelo direito das mulheres em países do Oriente Médio; combate à violência contra a mulher em países da América Latina; etc.) até desembocar na terceira onda do feminismo, por volta dos anos 1990.

As novas feministas, com uma consciência muito candente dos problemas gerados pelo sexismo, o racismo e o classismo, passaram a combater esses obstáculos produzindo uma inversão total de símbolos sexistas, racistas e classistas. Essas feministas procuravam aprofundar o debate questionando e reivindicando espaços e ideias. As mulheres passaram a ocupar cada vez mais os meios de comunicação e debater abertamente temas como gênero, trabalho, família, beleza e sexualidade.

Atualmente

Desta forma, segundo Marlene LeGates, estudiosa das lutas e das causas da mulher, o feminismo como um movimento pode ser dividido em três ondas ao longo da sua história:

  • Primeira onda: lutou pelo direito das mulheres ao voto (Movimento Sufragista ou Suffragettes), pela igualdade no casamento, por melhores condições de trabalho, na criação dos filhos e nos direitos de propriedade para mulheres;
  • Segunda onda: começou por volta dos anos 1950 e 1960 e aumentou as questões e os campos de luta, as mulheres passaram a debater temas ligados à sexualidade, à família, ao comportamento no local de trabalho, aos direitos reprodutivos, à violência doméstica e às desigualdades legais das quais as mulheres eram vítimas;
  • Terceira onda: chegou com diversas correntes e ramificações, é marcada pelo estudo de questões de gênero, pelo surgimento de movimentos punks femininos, pelo debate público de tabus, por dar voz ao sofrimento das mulheres e por uma postura mais combativa, principalmente na luta contra a violência contra a mulher.

É importante frisar que as ideologias que permeiam o feminismo foram mudando conforme cada momento. Em razão do período histórico, da sociedade e no país onde ele se encontra, o feminismo possui diferentes causas, objetivos e razões para sua existência.

Por exemplo, é na época da primeira onda do feminismo, por volta de 1905, que ocorre a Revolução Constitucional iraniana, a qual desencadeou o movimento das mulheres iranianas, que lutava por direitos legais para homens e mulheres do Irã. Portanto, o feminismo começava a se espalhar em todo o mundo – infelizmente esse quadro retrocedeu naquele país após a Revolução Iraniana de 1979.

Hoje, no Brasil, o feminismo tem lutado muito contra a violência, pois, segundo o Atlas da Violência de 2019, o feminicídio (assassinatos de mulheres cometidos em razão do gênero) aumentou 17% nos últimos cinco anos, isso mesmo após a criação da Lei do Feminicídio (13.104), em 2015.

Tais dados mostram que o feminismo segue sendo um movimento extremamente importante, capaz de contribuir imensamente para a melhoria da vida das mulheres no mundo do século XXI.